A língua é uma das nossas expressões de cultura, é um símbolo que expressa quem somos. Nada é tão rico quanto o “oxente” de Ariano Suassuna, brasileiro orgulhoso da sua terra citava Cervantes para nos lembrar o quanto o português é sonoro e musical. E tudo bem se você discorda dele, mas conhecer a riqueza da nossa linguagem e suas variações territoriais é parte do trabalho da Comunicação, da Publicidade e do Marketing.
Palavras são meios de comunicação, são pontes entre a mensagem que se quer passar e seu leitor, ouvinte, espectador são ferramentas de trabalho de quem escreve, produz e gostaria de ser compreendido. Não basta apenas ser lido, é importante compreender.
A língua já foi território de dominação para diferenciar as chamadas classes sociais, religiosas, ou separar a médicos de pacientes. Ela já foi responsável por categorizar intelectuais e até “inteligências”, ela pode ser ferramenta de preconceito, racismo e exploração. E se resolvemos rediscutir o mundo, precisamos pensar sobre a linguagem e o quão acessíveis queremos ser.
Se você cria um texto, um artigo, peça publicitária, um site, você gostaria de ser compreendido, e em geral essa conexão deixa de acontecer quando exageramos no estrangeirismo, em palavras que só fazem sentido para um pequeno nicho e não facilita o consumo da mensagem. Muitas expressões são resquícios da dominação e da categorização, que não precisamos fazer e que vai contra nosso objetivo de comunicar.
Precisamos incluir um ponto nesta discussão e entender que falhamos quando não valorizamos a riqueza da nossa linguagem, traço da cultura e do povo. Quando vemos a divulgação de vagas recheadas de estrangeirismos e como comunicadores deixamos passar, deixamos também de lado o acolhimento da cultura local, afinal a vaga pode exigir inglês, mas o contratado é brasileiro. Ele pode aprender sobre a cultura da sua multinacional, e a sua multinacional pode aprender sobre a cultura do país onde decidiu atuar? O mesmo pensamento vale para nossos departamentos, dentro das empresas, cheios de expressões que ninguém mais é obrigado a entender e que se as pessoas não entendem, não nos serve.
A geopolítica da fala
Quando não olhamos para esse abismo, seguimos repetindo os mesmos rituais. O cerne do debate se direciona sobre o uso excessivo de terminologias inglesa por questões óbvias e históricas. Dentro da ordem global na atualidade, não só o domínio e influência do inglês parece essencial, porém a supremacia político-econômica estabelecida faz com que grande parte das nossas referências venha dos países do norte descritos nesse idioma.
Em uma avaliação prática e empírica, passamos a não questionar, apenas incorporando o estrangeirismo em um processo colonial. Sentimos vergonha de “abrasileirar” o requinte importado ou simplesmente encontramos um mecanismo para elevar nosso grau de conhecimento quando pronunciamos “KPI’s” no lugar de desempenho no meio de uma reunião de trabalho. No fundo, podemos traçar uma analogia ao consumo e dizer que o que é importando tem mais qualidade.
Basta olhar para a constatação do dicionário Collins, que elegeu a palavra “lockdown” como a palavra de 2020. O termo foi mencionado mais de 250 mil vezes ao longo deste ano, sendo que em 2019 só foi citado em 4 mil ocasiões. Quem não se deparou com essa palavra de forma exaustiva pelos noticiários e redes sociais?
Não somos hipócritas em admitir que a tradução de termos e conceitos pensados em determinado idioma não sejam um real desafio. E aí que mora o convite para aproximarmos os diálogos e as realidades. Em um Brasil que 95% dos brasileiros não falam inglês, segundo levantamento feito pela British Council no ano passado, a de se pensar profundamente sobre o uso de “lockdown” a cada manchete. Afinal, não vestimos, moramos, e temos todos os mesmos hábitos e oportunidades (pano pra manga esse debate).
Termos e traduções
Ao mesmo passo em que em determinadas áreas, como nesse texto nos referimos à comunicação, ignoram a necessidade de traduzir ou simplesmente seguem o bonde, somos um dos poucos países que traduzem títulos e personagens de filmes. E, nessa parte enchemos a boca pra dizer que há exemplos que dão orgulho de bater no peito e dizer: “aqui é Brasil”.
A lista pode ser bem longa, e essa é apenas uma primeira levantada de poeira em um tema tão espinhoso. Vamos citar, então, apenas um exemplo da animação da Disney Inside Out, que conhecemos com Divertidamente. Uma tradução genial, se considerarmos o contexto da história em que os personagens são sentimentos que se manifestam na mente de uma garota. São aspectos sutis que nos fazem perceber a necessidade de buscar essa aproximação como forma de fortalecer nossas raízes e identidade.
Comunicação inclusiva
Como citado, nossas influências comunicacionais derivam grande parte de uma escola norte-americana. E a última reflexão proposta por aqui é uma breve lista de termos que corriqueiramente observamos em nossas rotinas, os quais simplesmente poderíamos adotar recursos da nossa amada língua portuguesa. Vamos lá:
- Insights = Lampejo; ideias; intuições;
- E-commerce = Loja virtual;
- CTA (Call-To-Action) = Chamada para Ação (CPA);
- Ebook = Livro virtual;
- Ads = Anúncios;
- Leads = Clientes;
- Lives = Ao vivo;
- Webinar = Seminário virtual.
Este texto foi originamelnte púlicado no portal Plural.Jor e escrito por
Elinéia Denis Ávila – Profissional de Marketing. Especialista em tendências de comportamento e cenários de futuro sustentável, mentora de negócios e gestora de Comunicação de Marca na PUCPR.
Giórgia Gschwendtner – Comunicadora com foco em inovação e construção de narrativas regenerativas. Idealizadora da GiG.Content, uma empresa com foco em posicionamento digital, inovação e visão de futuro.
Deixe um comentário